Em função de minha Tese de Doutorado em Orlando, FL, e dos projetos que desenvolvo no Brasil, tenho recebido inúmeras consultas sobre o tema de projetos arquitetônicos voltados à senescência (terceira idade). É até estranho falar em habitação para um determinado grupo de pessoas, pois vai de encontro ao conceito de Universal Design e User Experience que tanto acredito e pratico em meus projetos.
Vivenciamos até agora produtos imobiliários que vão do luxo ao espartano, tentando produzir a maior rentabilidade no menor prazo possível. O mercado imobiliário acredita na demanda da terceira idade (que julgam eminente, só que é imediata e reprimida) mas ainda não conseguiu entender como se alia um empreendimento com aspectos de atenção à saúde. Entenda-se por atenção à saúde a potencialização da independência do idoso e não o tratamento de doenças.
Para que fique claro a América Latina possuirá 70% mais de idosos que hoje nos próximos 10 anos, segundo dados da ONU (na Europa o crescimento será de 24%). Atualmente no Brasil já temos mais idosos que crianças de 0 a 9 anos. A pirâmide está se invertendo em um ritmo ao qual o mercado não vislumbrou como uma grande alternativa aos estoques e novos lançamentos residenciais e comerciais (inclua-se aqui retrofits na indústria hoteleira).
De fato, entender esse produto para idosos não é tarefa fácil, demanda de um grande conhecimento prévio sobre os graus de dependência e expectativas dessa população e de seus filhos ou tutores. Existe mercado desde reformas mais simples aos grandes complexos condominiais, a variação da velocidade de vendas e locações depende do grau de envolvimento, tecnologia e conforto que se deseja oferecer. Por outro lado, existem critérios em relação às dimensões e características de cada ambiente.
O importante é dar através de mecanismos arquitetônicos condições de inclusão social, convivência, pertencimento, segurança e independência de forma acessível. Mas o projeto é apenas uma pequena parte desse processo, pois geralmente as pessoas buscam essas alternativas quando uma crise ocorre (falecimento do cônjuge, doença mais grave, dificuldades motoras ou cognitivas), ao invés de se prepararem para a “envelhescência”, então existem aspectos emocionais e de personalidade que não podem ser esquecidos, caso contrário será apenas mais um prédio sem propósito.
Neste ponto nosso país carece de empreendimentos que possam oferecer soluções para todo esse novo ciclo na vida das pessoas. Ninguém gostaria de mudar de casa aos 70, 80 ou 90 anos, de acordo com os graus de dependência. Os conhecidos CCRC (Continue Care Retirement Community) são uma das melhores alternativas e sem dúvida a mais abrangente, mas demandam de aculturamento ao mercado brasileiro.
Assumi um compromisso junto ao meu orientador, Prof. Dr. Anthony Portigliatti, que logo após a defesa da tese transformaremos a mesma em uma bibliografia de referência para empreendedores nesse setor, oferecendo algumas soluções para garantir maior aderência do público a esse novo produto imobiliário, ainda com gigantescas oportunidades no Brasil. Por enquanto, os interessados podem acessar empreendimentos já consolidados como o Excellence Senior Living (http://excellenceseniorliving.com/semoran/) que tive a oportunidade de ser um dos consultores para a área clínica, ou o Excellence Alphaville-SP e Sorocaba que desenvolvi integralmente o projeto arquitetônico:
Texto escrito por Norton Ricardo Ramos de Mello: Engenheiro civil, mestre em Engenharia Biomédica e PhD em Gestão de Saúde.