Há 20 anos os grandes desafios dos projetistas da área de saúde era transformar os ambientes de Clínicas e Hospitais para se parecerem com Shopping Centers com o intuito de humanizar os espaços e trazer elementos lúdicos que pudessem fazer com que as pessoas se sentissem mais acolhidas e à vontade.
Atualmente, com a crescente e irreversível tendência à desospitalização, os ambientes de saúde entram em um rol de atividades de conveniência fundamentais para atrair e aumentar a densidade diária de público dentro do Mall.
Evidentemente que não se trata de adaptar áreas para Pronto-Socorro, Emergência, Centro Cirúrgico, UTI ou Internamentos, mas de uma enorme série de atividades (consultas e exames) que podem ser realizados de forma segura e sobretudo prática, além de outras de promoção à saúde, como fitness centers.
Esse movimento, ainda desordenado, merece muita atenção devido à sua relevância em termos de “leeds” que interagem com o restante das lojas e serviços. Ver uma farmácia no mix de lojas já é normal e bem entendido, mas ainda existem muitas dúvidas por parte dos gestores de ambos os lados, apesar de um universo de possibilidades a ser explorado. Nos deparamos vez por outra com posto de vacinação, laboratórios, centro de diagnóstico por imagem, liberação de guias de convênios médicos, e raramente consultórios.
É preciso entender que a Operação de Saúde tem particularidades (vantagens e desvantagens) e que deve ser estruturada para se tirar o maior proveito dos espaços, afinal, precisamos dar retorno aos investidores e à sociedade.
A principal vantagem sem dúvida alguma é a alta atratividade de público. Uma área de 120 m² comporta cerca de 10 consultórios com potencial de atendimento superior a 1.000 pessoas/dia se considerarmos 12 horas de funcionamento. Outra grande vantagem é a movimentação dos negócios interdependentes como estacionamento, agência bancária, farmácia, laboratório, fitness, diagnóstico por imagem, praça de alimentação, loja de suplementos, kids place, etc. O Shopping se torna um grande provedor de soluções e conveniências, também para a indústria da saúde.
Como desvantagens, dependendo das atividades, a operação pode iniciar antes da abertura convencional às 10h e o ticket médio em geral é menor, porém, os locatários constituem um público fiel e raramente inadimplente.
Para a estruturação da oferta de espaços para a área de saúde, deve-se seguir alguns passos essenciais. O primeiro deles é identificar uma região estratégica para sua localização, uma vez que a lógica é parecida com uma praça de alimentação em relação à chegada de insumos, público e retirada de resíduos. Por insumos entenda-se também a eventual necessidade de tubulação de gases medicinais (oxigêncio, ar comprimido e vácuo).
Vencida essa etapa, para que o cliente da área (médico, dentista, fisioterapeuta, enfim) perceba-se dentro do espaço, é necessário demonstrar as possibilidades de ocupação. Isso se faz através do desenvolvimento de layouts de acordo com a legislação sanitária federal em vigor, apresentando os ambientes através de plantas humanizadas. Nessas simulações, dependendo da área e atividade clínica, são desenvolvidos conjuntos de consultórios e clínicas especializadas (estética, dermatologia, endoscopia, ressonância magnética, etc.), bem como suas áreas de apoio (recepções, esperas, abrigo temporário de resíduos). Com esses elementos os profissionais de saúde enxergam as possibilidades de ocupação e iniciam a aproximação para as negociações com segurança de que poderá prestar um serviço de qualidade aos seus pacientes.
Outros estudos são realizados simultaneamente em relação às necessidades de reforço em lajes, altura entre lajes, proximidade de elementos que interferem em exames, blindagens de radioproteção, cargas elétricas, climatização e questões hidrossanitárias.
Note que não é algo fácil nem difícil, mas diferente, não usual, não habitual, por isso pode assustar em um primeiro momento e por isso é necessário uma equipe focada em saúde para auxiliar na estruturação dessa operação, mas é certo o gigantesco potencial de negócios que uma ação dessas pode trazer para a gestão dos Shoppings, lojistas e clientes.
Texto por Norton Ricardo Ramos de Mello, engenheiro civil, mestre em Engenharia Biomédica e PhD em Gestão de Saúde.