No Brasil o compartilhamento de um imóvel residencial no “estilo” Co-Housing para idosos é conhecido como Casa de Idosos ou Lar de Idosos. Na verdade é mais uma adaptação do conceito, pois muitos acabam se configurando verdadeiros “depósitos de velhos” e talvez por esse motivo tenham uma imagem tão negativa em nosso país, bem diferente das Co-Housing em outros países.
Mas não é exatamente isso que gostaria de abordar nesse artigo, mas sim um projeto incrível que tive o privilégio de participar chamado Campos Verdejantes. Trata-se de uma espécie de adaptação do Co-Housing crianças-adolescentes-adultos autistas e/ou com problemas neurológicos.
A iniciativa é filantrópica e nasceu liderada por um grupo de pais da Igreja Luterana de Joinville, Santa Catarina, Brasil. Ao perceberem que a longevidade de crianças especiais tem aumentado consideravelmente, decidiram criar um Co-Housing para que possam ter maior tranquilidade em relação ao futuro de seus filhos. Há cerca de 40 ou 50 anos lembro que perguntava para os meus pais sobre o que seria dessas crianças quando atingissem a idade adulta e eles sempre me respondiam que infelizmente nenhum deles conseguiria chegar tão longe. De fato, a realidade na década de 70 era que essas crianças raramente ultrapassavam 20 anos de idade. Outro triste fator era que os pais escondiam seus filhos do mundo exterior, em uma tentativa de protegê-los dos olhares críticos da sociedade. Claro que na época, ao menos em minha memória afetiva de criança, não lembro de se falar de inclusão no Brasil, esse tema, assim como bullying, não era abordado com a lucidez atual.
Essa realidade felizmente mudou, ainda que timidamente em muitos casos. Quem já visitou os parques da Disney em Orlando, FL pode perceber a enorme quantidade de pais que levam seus filhos especiais, mesmo em cadeiras de rodas, para experimentar e vivenciar um pouco daquela magia.
Legal, mas qual a relação com o Projeto Campos Verdejantes? A relação é que os pais perceberam que muito provavelmente morrerão antes de seus filhos e muitos deles não possuem (ou não desejam) outros membros na família à quem lhes delegar os cuidados. Nesse caso é necessário criar condições de atendimento em termos de moradia, inclusão, acolhimento e até mesmo cuidados com tarefas diárias (banho, vestimentas, etc.) e medicamentos.
O projeto prevê quartos seguros e confortáveis, individuais ou em duplas, auditório, cozinha segura (aberta para a participação dos usuários quando possível), ampla área de convivência interna e externa, jardim de inverno no interior da edificação, área de lazer externa com bosque e mata nativa, consultório para atendimentos e imunizações, lavanderia e duas suítes especiais as quais são disponibilizadas para os pais, irmãos ou tutores, irem visitar os moradores no caso de serem de outros municípios.
A primeira etapa já está construída. O auditório já está em operação e agora eles aguardam por mais recursos para disponibilizar as outras etapas. Como é gratificante projetar com propósito! É muito inspiradora essa iniciativa, por esse motivo compartilho e peço a reflexão de todos.
Texto por Norton Ricardo Ramos de Mello: engenheiro civil, mestre em Engenharia Biomédica e PhD em Gestão de Saúde.