Minha filha de 15 anos, dias atrás, me fez refletir sobre as mudanças permanentes trazidas pela pandemia, principalmente da manutenção de alguns hábitos que implementamos dentro e fora de casa.
De fato, antes dificilmente higienizávamos as compras do mercado, jamais limpamos embalagens de alimentos entregues por delivery ou correspondências. A lavagem das mãos ao chegar em casa sempre foi mandatória.
Nos privamos de ir a restaurantes, sair com amigos, cinema, teatro, festas e tantas outras atividades corriqueiras, muitas delas por força dos decretos estabelecidos pelo poder público e outras por não nos sentirmos seguros o suficiente nos ambientes.
Ao analisar e refletir sobre essas questões, é importante que escolas, universidades, supermercados, restaurantes e comércios em geral, atacado ou varejo, além de tomar algumas medidas de cuidados em relação à pandemia, demonstrem ativamente que estão adotando esses cuidados às vistas do consumidor. Sim, nós consumidores precisamos nos sentir seguros e a melhor forma de experimentarmos essa sensação de segurança é pela observação contínua de atitudes de colaboradores e o preparo dos ambientes que frequentamos.
Além da exposição de facilitadores de higienização de calçados e das mãos, com tapetes sanitizantes e álcool em gel, respectivamente, além da medição de temperatura (questionável, mas vá lá), além da restrição da ocupação dos ambientes em percentuais da capacidade máxima, é fundamental que os colaboradores demonstrem em si próprios, nos utensílios, ferramentas, produtos e ambientes a preocupação em tornar a experiência do cliente segura e acolhedora.
Muito embora se tomem todas essas precauções, causa-me preocupação singular a questão da carga viral em suspensão no ar. Notadamente a prevalência de doenças respiratórias na região Sudeste e Sul do Brasil é maior que nas demais regiões, especialmente no inverno, onde as temperaturas caem e há uma tendência em manter janelas e portas fechadas, sem a renovação permanente do ar interno dos ambientes.
Essa prática de “enclausuramento” pode ser observada mesmo em regiões quentes, onde a renovação de ar é cerceada pela utilização de ar condicionado. A preocupação se deve ao fato de que os equipamentos tipo “split” não promovem a renovação do ar interno como muitos podem imaginar, mas sim a recirculação, ou seja, capta o ar do ambiente, refrigera ou aquece, e devolve esse mesmo ar sem a renovação externa.
Nesse processo, os filtros desses equipamentos não são adequados para bloquear ou reter partículas potencialmente patogênicas, ou seja, vírus e bactérias podem se juntar à partículas de poeira ou micro gotículas de água e serem aspiradas pelas pessoas, que automaticamente poderão ser contaminadas. Observem a gravidade: mesmo que um restaurante, por exemplo, diminua para 50% a sua capacidade de atendimento, se os ambientes não possuírem a possibilidade de renovação do ar irão se tornar em potenciais agentes de contaminação.
Alguns shopping centers estão adotando além da renovação no sistema de climatização, filtros HEPA (sigla para High Efficency Protection Air), que conseguem reter praticamente a totalidade dessas partículas. São filtros similares aos utilizados em Centros Cirúrgicos, por exemplo.
Evidentemente que a esmagadora maioria dos estabelecimentos não possuem recursos para modificar todo um sistema de climatização e adotar filtros absolutos, porém, muitos podem observar se estão promovendo a renovação permanente do ar interno. Existem normas técnicas e cálculos para uma renovação eficiente, a qual deve prever “X” m³/h/m².
Para uma volta às aulas com segurança, é de fundamental importância que escolas e universidades verifiquem a possibilidade de manter se possível uma ventilação natural adequada e permanente, que haja uma lógica na “varredura” do ar no interior dos ambientes, pois não basta colocar ventiladores aleatoriamente nas salas de aula, ao contrário, poderá inclusive prejudicar. Surge, portanto, uma nova ordem das coisas. Sendo bem honesto, em qual escola você mandaria seus filhos com segurança, para a que divulga e demonstra esses cuidados ou para a que ainda trata a pandemia de forma obscura? Qual ambiente você exporia a si próprio e sua família? Qual shopping, supermercado, restaurante, loja, escritório, etc.?